Olá, amigas e amigos, tudo bens? Estou de volta após um longo outono, heh!! Estou postando esse conto/roteiro chamado OCASO, que quero transformar numa HQ. Portanto, se se interessar em ilustrá-lo, contate-me please. Minha idéia de OCASO, a HQ, é uma trama com apenas duas páginas, mas com o mesmo punch do conto.
Abraços, cuidem-se e confiram!!
Vagner Francisco
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OCASO
Bolívar é um rapaz, no alto de seus 18 anos, muito saudável, bonito e forte - lembra um zagueiro de futebol. Vaidoso, sempre se veste muito bem, e mantém o cabelo cortado e penteado. Gosta muito de rir e se divertir. Bolívar também é muito elegante.
Mas nada na vida, exceto o próprio Deus, é perfeito. Filho mais novo de três irmãos e por isso o que mais recebeu atenção por parte dos pais, Bolívar tem um vício. Não resiste à cocaína. Há estudos científicos que garantem que cocaína é o vício mais difícil de se livrar. E nosso jovem protagonista pena para resistir à droga. Mas é deveras difícil. E, como todo vício, a cocaína não apenas lhe custa a saúde e dependência; ela lhe tira tudo, financeiramente, ou não, falando.
Numa dessas ocasiões, Bolívar acabou cheirando mais do que podia pagar e 'pendurou' alguns gramas. O fornecedor lhe deu prazo para quitar a dívida. Infelizmente, o rapaz não conseguiu o montante a tempo. É óbvio que o medo lhe percorria, mas a necessidade da euforia e de uma vida normal, lhe impediram de fugir. Eis que, como fazia todos os finais de semana, Bolívar foi até o Porão - bar temático e muito frequentado pelos jovens da cidade - encontrar os amigos e amigas.
Carros e motos iam e vinham, por quase todo o momento, mas aquele barulho específico de uma Biz 100 cilindradas virando a esquina, era diferente. Era o som da morte. Bolívar sabia, mesmo sem olhar, que daquela motoneta desceria seu algoz.
Ele fecha os olhos por apenas um segundo, passa a língua por entre os lábios e vira-se, vendo o traficante vindo em sua direção. São nove da noite. Seu primeiro impulso é correr em direção à própria moto. Bolívar quase consegue chegar na moto. Quase. O algoz tira de dentro da calça uma arma semi-automática e dispara treze tiros em suas costas, derrubando-lhe no meio da rua.
Todos, sem exceção, no Porão, se levantam e congelam. Como se possível, a única respiração audível é do próprio homem com a arma na mão. Homem, é até um termo exagerado. Um garoto mais novo e menos encorpado que Bolívar que talvez, numa luta justa, é bem provável que apanharia feio de sua vítima.
Calmamente, o garoto vai andando até o rapaz caído na rua, agonizando e chorando muito.
O garoto chega até Bolívar, lhe olha nos olhos, lhe aponta a arma no crânio.
Tudo passa na cabeça de Bolívar nesse momento. Sua mãe, os amigos verdadeiros, o medo do macabro, a pornografia, as drogas e como esse mal o levou até aquele momento, e enfim, a morte. É quando urina em si mesmo. É quando sabe que acabou. É quando não mais há o que fazer. E seus olhos fecham. E o projétil de metal invade sua testa. E sua vida é ceifada. E tudo o que era Bolívar, seus sonhos e aspirações, terminam naquele exato momento.
O garoto então, põe a arma de volta à cintura, se queima com ela e pragueja, e volta para a motoneta. Meio apressado, ele sai pelas ruas. Só então as pessoas voltam a respirar e se mexar. Alguém grita, garotas desmaiam. O dono do estabelecimento chama o resgate e a polícia. Alguém liga para a família de Bolívar.
PAGINAÇÃO:
PÁGINA 1
Quadro 1 - Nesse curto espaço, entre a cadeira onde estava sentado e sua moto, Bolívar corre. Ele está desesperadamente ofegante.
Legenda: "Seu nome é Bolívar. E hoje não é exatamente..."
Quadro 2 - Quase na moto, Bolívar é muitas vezes alvejado nas costas por um garoto magro, com roupas bem largas, calças caindo, uma jaquetona por cima e um gorro na cabeça, diexando-o com ar misterioso. A arma é uma 765. Em terceiro plano, há toda uma multidão de clientes da lanchonete. Todos estão em pé, embasbacados com o que ocorre.
Legenda: "... o melhor de seus dias."
Quadro 3 - Ponto de vista do chão, onde vemos Bolívar caído, agonizando, enquanto ao fundo o matador caminha lentamente em sua direção.
Legenda: "Bolívar é presa fácil do Safari Joe dessa maldita selva urbana."
PÁGINA 2
Quadro 1 - Ponto de vista do próprio Bolívar - como se o leitor fosse ele. O algoz chega bem próximo e lhe aponta a arma. O algoz está em meio às sombras, portanto há um ar misterioso nele. Dê mais destaque à arma, por favor.
Legenda: "O poder paralelo dita leis definitivas. Para todo crime contra o patrimônio do tráfico, há apenas uma sentença! Uma vida sendo tomada por R$ 50,00! Esse é o valor de Bolívar neste momento."
Quadro 2 - Close bem nos olhos de Bolívar. Ele está meio choroso, embora a dor contribua para isso. Bolívar sua, geme, e silenciosamente suplica.
Legenda: "Sonhos. Pensamentos. Amor. Sexo. Gozo. Prazer. Dor. Choro. Perdão. Pecado. Tristeza. Rancor. Alegria. Filhos. Família. Música. Chuva. Calor. Sangue. Alma. Tudo..."
Quadro 3 - Plano americano, distante, vemos o algoz disparar o tiro derradeiro. Aquele que retira tudo o que era Bolívar.
Legenda: "...arrancado de Bolívar num pequeno instante. Numa última bala. Um último disparo. Um último suspiro. Um último pensamento. Um último..."
Quadro 4 - Quadro menor. Mesmo ponto de vista. Apenas o matador caminhando para longe do corpo de Bolívar, enquanto o rapaz jaz ali.
Legenda: "...FIM."